“La división internacional del trabajo consiste en que unos países se especializan en ganar y otros en perder. Nuestra comarca del mundo, que hoy

llamamos América Latina, fue precoz: se especializó

en perder desde los remotos tiempos”

Eduardo Galeano, Las venas abiertas de América

Latina.

As comemorações e reflexões relacionadas aos cin-quenta anos de publicação do instigante livro de Eduardo Galeano colocaram em evidência uma ge-ração de importantes intelectuais latinoamericanos, dentre os quais se destaca Theotônio dos Santos, que, a partir de distintas perspectivas teóricas, pro-curaram pensar e problematizar as características estruturais e conjunturais latino-americanas, refle-tindo sobre a condição da América Latina no mun-do moderno e contemporâneo e a sua inserção no cenário internacional.

Esta questão fundamental mobilizou, ao longo dos séculos, inúmeros pensadores que se debruçaram sobre a natureza, a dinâmica e as condições his-tóricas e estruturais que determinaram os dilemas latino-americanos. Estes, como apontou Quijano a partir da colonialidade do saber e do poder, estão relacionados à identidade, modernidade, unidade, democracia e desenvolvimento.

Estes traços compartilhados revelam a persistência da colonialidade do poder e do saber que relegou a América Latina a um papel marginal na moder-nidade e no cenário internacional contemporâneo, manifestando-se numa perspectiva eurocêntrica que atinge profundamente as estruturas econô-micas, políticas e culturais da região, reforçando a subalternidade e a dependência epistêmica, políti-

ca, cultural e, principalmente, econômica. Apesar de tal debate se apresentar durante o período colonial, através de vozes que denunciavam a tragédia da

ocupação e a desumanização de indígenas e escra-vos africanos, e ressurgir no século XIX, na esteira dos processos de independência e fragmentação da América Latina, ganhou maior relevância com o desenvolvimento do pensamento latino-americano. Particularmente, em sua vertente crítica e descolo-nizadora, tanto nas ciências sociais como na litera-tura e nas artes, a partir de meados do século pas-sado, com a emergência ou consolidação de uma nova intelectualidade crítica latino-americana.

Dentre as (re)visões ou teorias produzidas por este florescimento intelectual autônomo e latinoame-ricano, destaca-se a Teoria da Dependência. Esta possui como referência fundamental a obra de Fer-nando Henrique Cardoso e Enzo Faletto Dependên-cia e Desenvolvimento na América Latina, mas se traduziu numa corrente que apresentou diversas vertentes e mobilizou importantes intelectuais que representaram o primeiro desafio epistemológico relevante ao eurocentrismo acadêmico e cultural.

Tal corrente se constitui numa formulação original sobre o capitalismo contemporâneo e a condição da América Latina, dialogando e aprofundando as abordagens da Comissão Econômica para a Amé-rica Latina e o Caribe (CEPAL), analisando sua in-serção na dinâmica econômica mundial a partir da interação entre desenvolvimento e subdesenvolvi-mento, como duas faces de um mesmo fenômeno que reserva à região um lugar subordinado no sis-tema internacional.

Neste sentido, a Teoria da Dependência tornou-se, como ressaltado na introdução desta obra, o primei-

A obra pode ser acessada no portal de CLACSO em: http:// 2

biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/se/20201113074853/ Theotonio-tomo-I.pdf (tomo I) e http://biblioteca. clacso.edu.ar/clacso/se/20201113075316/Theoto-

nio-tomo-II.pdf (tomo II)

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Publicada originalmente en: Revista Wirapuru, 4, año 2, pp.1-5 2